Hoje o Correio da Manhã faz capa com a luta contra a Tuberculose. Esta luta é agora personificada pelo ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, na qualidade de "Enviado Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para a luta contra a tuberculose".
É um facto que a nomeação, bem como as acções entretanto tomadas, têm sido amplamente divulgadas, pelo menos na comunicação social portuguesa.
Sabendo-se que a TB é a doença infecciosa que mais seres humanos mata no mundo, é óbvio que têm de ser tomadas medidas de fundo para reduzir o nº de casos e, principalmente, o nº de mortes por TB em Portugal e no resto do mundo.
A TB é uma doença que se propaga pelo ar, sendo os ambientes fechados e húmidos especialmente propícios à doença. Uma das principais razões para que a luta (em Portugal) não tenha sido tão bem sucedida como se pretende será a existência/aparecimento de zonas de risco onde não se consegue identificar e tratar os doentes infectados antes que estes passem a doença a outros. Segundo ouvi, as piores zonas são as zonas tipicamente frequentadas por toxicodependentes cujo carácter sazonal associado ao desinteresse destes pela doença faz com que a TB se mantenha activa.
Em termos internacionais, os piores casos surgem em países menos desenvolvidos, onde a falta de apoio médico e de medicamentos, associados à pobreza e falta de informação levam a doença ao topo do nº de mortes entres seres humanos.
No entanto, a doença existe um pouco por todo o mundo, infectando pessoas de todos os extractos sociais, como testemunha a edição de hoje do CM.
Posto isto, não há dúvidas de que há necessidade de fazer algo. Não se compreende como é que uma doença para a qual há cura ainda esteja disseminada desta forma. Seja em meios mais desenvolvidos ou em meios menos desenvolvidos, quando existe cura, cada morte é uma aberração. Basta ver o caso da Varíola (embora com recurso a vacinas) para sabermos que é possível erradicar uma doença altamente infecciosa a nível global.
Para ser sincero, acho louvável que a ONU se dedique a esta causa de forma global, usando os recursos e personalidades que considere as mais indicadas. Mas também é um facto que cada personalidade tem responsabilidades diferentes. Por exemplo, quando um Ronaldinho, um Ronaldo ou um Bono Vox, que se tornaram famosos pelos sucessos que obtiveram nas suas carreiras são nomeados embaixadores, enviados especiais ou representantes de campanhas humanitárias, eles estão a assumir responsabilidades novas, que não poderiam assumir apenas no âmbito das suas profissões. Ou seja, passam a usar a sua fama e influência nas gerações que os ouvem, os vêm e os admiram para passar a mensagem das campanhas que apoiam.
Já o Sr. Dr. Jorge Sampaio é um caso diferente. Este Sr. foi Presidente da maior Câmara do País durante não sei quantos anos, e depois foi Presidente da Républica durante mais oito anos. Alguém o viu ou ouviu a falar sobre a TB? Eu não!! Será que quando assumiu essas funções não assumiu também responsabilidades ao nível da saúde pública?
Será que nos seus discurso de PR, tão cheios de vento e onde dizia o que todos sabíamos não poderia um dia falar em problemas como este?
Será que não tinha poderes para tomar acções eficazes sobre esta e outras matérias tão importantes?
É por isso que eu detesto políticos! Porque quando assumem um papel apenas o assumem nalgumas vertentes, esquecendo todas as outras.
E só assim se justifica o papel de "Enviado Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para a luta contra a tuberculose".
Este serve para o Sr. Dr. Jorge Sampaio chamar a atenção aos governantes deste mundo para uma doença que ele, quando foi governante, também ignorou!
